Aqui o jogador tem que jogar o jogo todo? Foi assim que Abel Ferreira iniciou a sua resposta para o jornalista Paulo Massini, na sua última coletiva após a vitória sobre a Ferroviária, quando questionado sobre substituir Raphael Veiga em todos jogos e se o camisa 23 estava tendo um desgaste físico maior nas partidas por causa desta nova formação com três jogadores no meio campo alviverde. O questionamento do Massa é muito válido, mas a resposta de Abel Ferreira me chamou ainda mais a atenção. Aqui no Brasil a gente está acostumado com jogadores sendo praticamente obrigados a jogarem os 90 minutos de uma partida. Caso isso não aconteça, o próprio jogador, torcida e imprensa se revoltam com a escolha totalmente cabível do técnico na beira do gramado.
O Palmeiras é o time que menos sofreu com lesões musculares no ano passado. Neste ano, com o DM ainda zerado (tirando Marcelo Lomba que já está treinando com bola após uma fratura no dedo), mais uma vez o Núcleo de Saúde e Performance aliado à comissão portuguesa de Abel, vai demonstrando um ótimo planejamento do elenco, que inicia esta temporada com um calendário muito mais escasso em relação ao ano passado.
Será mesmo que aqui o jogador tem que jogar o jogo todo? Porque Raphael Veiga e Dudu não podem jogar 65 minutos por partida? Eu prefiro que um jogador atue 65 minutos na sua máxima intensidade, do que 90 em que ele demonstre uma queda de desempenho. Ainda mais se o jogo estiver ‘decidido’ e os craques do time puderem ser poupados visando a sequência do ano.
Com Endrick está sendo a mesma situação. A torcida simplesmente não entende os motivos de Abel Ferreira não deixar o camisa 16 completar uma partida toda como titular. O problema é que a gente não sabe qual a carga física que o profissional está acarretando nas pernas de um garoto de 16 anos, por mais diferente que ele seja. Não temos esses dados e vivemos na ansiedade e na crítica sem o mínimo de informação para exigirmos que Abel mantenha ele no gramado os 90 minutos.
No caso do Endrick há um agravante pela joia já estar negociada com o Real Madrid. Também não sabemos as cláusulas contratuais e se há um cuidado maior para que ele não se lesione e cumpra a meta de jogos no Verdão até embarcar para a Europa.
Eu sigo preferindo acreditar em quem mede todos os dados e passos dos nossos atletas, respeitando sempre a ciência e a fisiologia de cada um para que tenhamos sempre o nosso elenco em sua máxima disposição. No ano passado, o coordenador científico do Palmeiras, Daniel Gonçalves, esteve no Podporco e nos detalhou todo processo da comissão técnica alviverde para que os jogadores deêm o seu melhor dentro de campo.
O maior medo da torcida para essa temporada é que Raphael Veiga se machuque novamente. Mas ao mesmo tempo em que os palmeirenses não desejam sua lesão, também querem que ele jogue os 90 minutos. Os dois não dá.
Vale lembrar também que diversos jogadores do banco, que estão sendo muito questionados pela torcida, dificilmente ganham sequência no time titular e raramente jogam os 90 minutos. O principal exemplo é José Manuel López. Maior contratação da história do clube, ele tem apenas 20 jogos com a camisa do Palmeiras, apenas nove como titular e um total de 870 minutos dentro de campo. Convenhamos que é uma amostragem muito pequena para decretar que ele fracassou na Pompéia.
Bruno Tabata idem.
Eu queria ver mais deles. Mas como? Se quando Abel tira um titular e coloca um reserva toda torcida já vira o olho e prevê que a terceira guerra mundial está para acontecer?
Enquanto o DNA corneta palmeirense faz a gente questionar as decisões de Abel Ferreira o tempo inteiro, eu sigo preferindo confiar na convicção do treinador. Ele estava certo quando manteve Zé Rafael titular nas quartas da Libertadores de 2021, mesmo com muita gente pedindo Patrick de Paula no time. Ele também esteve certo em escalar Felipe Melo como titular nas duas semifinais contra o Atlético-MG, mesmo com muitos torcedores torcendo o nariz para a decisão. Ele esteve certo quando manteve Rony como titular em Itaquera mesmo com alguns achando que o camisa 10 deveria ser banco, porque o que importa é ver Endrick e Giovani juntos e não o Palmeiras competir bem em um clássico diante do maior rival.
Há quem torça por suas escolhas pessoais. Eu sigo torcendo por um Palmeiras cada vez mais competitivo dentro de campo, e isso Abel Ferreira me entrega há três temporadas. As vezes nem os jogadores entendem, mas o próprio português faz questão de enfatizar que eles não precisam entender tudo.
Seguirei confiando nas suas escolhas, mesmo que às vezes elas estejam erradas. Ele já me provou por A+ B que entende bem mais de futebol que eu. E que bom que ele não dê ouvidos para a torcida. A gente é bom demais em incentivar, ele em treinar. Sigamos assim para mais uma temporada gloriosa. (E que a diretoria seja competente para contratar e repor pelo menos a saída do Danilo para o restante do ano).